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Panelas: Para cozinhar e para Protestar!

Luiz Felipe Hadlich Miguel

De diversas cores, tamanhos e formatos, as panelas são objetos presentes em praticamente 100% dos lares do planeta. Sua origem é bastante antiga, remontando à pré-história as descrições de sua utilização (foi após a domesticação do fogo que o homem se afastou de sua existência puramente animal e deu início à sua vivência mais humana). Passados milhares de anos, em pleno século XXI, estes curiosos objetos (empregados usualmente para cozer alimentos) vêm ganhando outras utilidades.

No Brasil recente as panelas ganham força como instrumento de protesto. Insatisfeitos com os rumos da nação, cidadãos postam-se à frente de suas janelas para, em determinado dia e horário, percutirem objetos metálicos em panelas, gerando um ruído deveras emblemático e característico, numa demonstração de reprovação aos ditames governamentais adotados pela Presidência da República.

Os denominados “panelaços” nada mais são do que o puro e simples exercício do Direito de Reunião, consagrado constitucionalmente, e que garante a expressão de opinião pública – elemento basilar nos considerados Estados Democráticos de Direito.

Espera-se, com a sua efetivação, que a repercussão possibilite a mudança do status quo, de forma a permitir alterações de condutas e de diretrizes governamentais.

Vale lembrar que as redes sociais e os novéis métodos de rápida comunicação trazem aos organizadores dos manifestos um poder de, velozmente, dissipar a notícia, expondo dia e hora dos programados eventos.

A discussão que nos parece mais importante diante do quadro sócio-político brasileiro ora posto é saber: qual a real força deste movimento, que ganha novos adeptos a cada edição?

Nesta esteira, há um aparente desconforto do governo para com esta nova forma de protestar. Tanto é assim que em programa partidário recente fora feita uma referência velada aos ditos eventos, posicionando-os como manifestações de uma pequena parcela elitizada da população.

Longe de querer apoiar (ou não) este fenômeno, o fato é que expressa, a toda evidência, a indignação de uma parcela da população. Simplesmente ignorá-lo dará ensejo à sua potencialização. Curvar-se a ele é demonstrar fragilidade e o reconhecimento de equívocos na condução da política nacional.

A sociedade é um organismo mutável e adaptável. Estamos diante de um novo fenômeno de manifestação social. Suas efetivas forças e poderes ainda são desconhecidos. Resta saber se teremos instituições sólidas e governantes sensíveis aos reclames de seu povo. Enquanto isso, deixemos as panelas a postos – ao lado do voto, parecem ser armas das mais poderosas no exercício da democracia.

Luiz Felipe Hadlich Miguel é associado do Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial – IBDEE.